fala galerinha do Youtube, beleeeeeeeza? eu não sei se vocês ficaram sabendo, mas esta semana aquela galera lá do Oriente Médio começou a se bombardear. TERCEIRA GUERRA MUNDIAL? para isso, a gente vai ouvir um debate sobre Irã e Israel com o professor bolinha tubes, que não é formado em história mas tem um canal muito fera que explica história com bolinhas, e o pastor Bob, que acha que sabe falar hebraico. e ambos são terrivelmente burros. deixa seu like e se inscreve no canal!.
depois de uma semana infinita dessas coisas, é difícil tentar entender a realidade, explicá-la, ou fazer grosa. mas gostamos de desafios e por isso estamos na primeira parte da décima sexta — e tão aguardada — edição de O Mundo Está Uma Loucura.
e digamos que esta semana foi um pouquinho monotemática. eu não sei se vocês já estão saturados (como eu) de ter que pensar neste assunto ou se vocês desejam saber o lado B das notícias internacionais desta semana. na dúvida, vamos ter que fazer ambos. a primeira parte da edição desta semana será focada no Oriente Médio. a segunda, no resto do mundo.
antes,
yalla.
oriente médio
comecemos pelo genocídio em Gaza, que segue operando. em Khan Younis, na terça-feira, 59 pessoas assassinadas numa fila de comida da GHF, organização “humanitária” israelense que tem operado dentro do território com apoio de mercenários dos EUA. são mais de 55 mil mortos.
ao sul de Rafah, a Marcha Global para Gaza foi cancelada em 16 de junho depois de forte repressão do governo egípcio. ativistas denunciam prisões e torturas. na semana passada, tinha mostrado minha descrença. o Egito, completamente subserviente e aliado a Israel nos temas de Gaza, não quer um monte de estrangeiros em sua terra apoiando a Irmandade Muçulmana. na-na-ni-na-não. falando nisso, todos os ativistas da Flotilha da Liberdade foram libertados.
e aí agora, dito isso, vamos falar sobre Israel e Irã.
não sei se vocês ficaram sabendo e tal, mas na quinta-feira passada (12), Israel, só para deixar bem claro, violou o direito internacional (uma fábula) para agredir o Irã bombardeando Teerã.
aí na sexta-feira, a Pérsia respondeu. aí a gente tá vendo bomba caindo em solo iraniano e bomba caindo em Tel Aviv desde então. e aí rolou essa cena maravilhosa:
neste momento, tudo está muito imerso em uma névoa de guerra. a fumaça subiu e ninguém sabe direito o que está acontecendo. a realidade está em suspenso, e nós temos apenas indícios para trabalhar.
há muitas mortes de civis, há muitas mortes de autoridades, há muitas perdas militares e infraestruturais que ainda não estão claras e acabam imersas em propaganda. por isso, é importante ter calma e paciência, mesmo que seja difícil neste momento.
a melhor analogia que eu consigo pensar é ver um jogo de futebol em uma tv de antena cujo sinal tá falhando. uma hora vem a imagem, mas sem cor. outra hora, vem o som, mas sem imagem. outra hora, uma foto. outra hora, o seu tio passa com o cofrinho na frente da TV e você se distrai. outra hora teu primo burro te chama pra jogar UNO e quase sai o gol. dá pra entender o jogo? talvez. dá pra saber quem tá ganhando? é foda.
como você percebe eu não sou bom de analogias.
dito isso, vamos modelados no Q&A.
a primeira é:
quem está envolvido?
factualmente, Israel atacou o Irã.
o Irã e Iêmen atacaram do outro lado.
a Jordânia, governo árabe subserviente aos EUA e a Israel, derrubou drones e mísseis iranianos defendendo Israel.
a Casa Branca está na fila para entrar.
qual o objetivo israelense?
muita gente tenta acreditar que isso se trata somente de um conflito para tentar salvar politicamente a sua continuidade de Netanyahu poder de Israel, mas isso conta muito pouco da história.
gente, o Netanyahu é um merda e tal, ninguém tem dúvida, mas ele não age sozinho. ele tem costas largas e é só ver as pesquisas: a população, inclusive os ditos sionistas de esquerda, estão felizes com as bombas caindo em Teerã.
dito isso: Israel quer colocar um regime amigo no poder do Irã e, para isso, quer que os EUA entre na guerra.
Israel tem como fazer isso?
sem os EUA ou a Europa, Israel não tem como impor uma derrota significativa ao Irã.
problemas da cadeia logística israelense e da própria profundidade do país tornam uma guerra prolongada impossível. todas as guerras tradicionais (ou seja, quando não eram contra civis ou grupos paramilitares) da história de Israel foram muito rápidas porque os sionistas tem dois problemas demográficos e econômicos em caso de conflito prolongado:
a população foge do país por ter dupla cidadania ou
para de trabalhar para ir para a guerra, gerando desabastecimento de emprego. e isso não demora muito.
além disso, o tal Domo de Ferro não é um sistema mágico. ele precisa de altas bombas para ser alimentado. depois de algumas semanas chovendo foguete, começa a acabar o traque para se defender. com o espaço aéreo aberto, Israel inteira vira um alvo do Irã. e aí fica muito difícil continuar essa guerra sem pedir arrego.
para isso, Israel PRECISA da entrada dos EUA no conflito. ele vai chamar mamãe. só os EUA poderiam seguir bombardeando o Irã enquanto Israel reconstrói sua economia e forças de auto-defesa. sem a participação de Trump, o sionismo compremete sua segurança em coisa de semanas.
os EUA vão fazer isso?
eu literalmente não sei e quem disser que tem certeza também não sabe.
60% da população do país, revela pesquisa da YouGov feita no fim de semana, não quer que os EUA entre numa guerra. entre eleitores do Trump, a rejeição é de 53%. 56% da população defende a continuidade das negociações com os aiatolás.
o custo político para Trump é alto.
por outro lado, uma parte importante da sustentação política de Donald Trump está em grupos políticos neoconservadores que gozam com a possibilidade de o Irã ser invadido desde 1979. essa galera:
uma derrota dos aiatolás e o fim do regime pode significar uma vitória estratégica para os EUA contra a tal multipolaridade. vencer o Irã significaria que os EUA pode derrubar todos os seus inimigos no planeta. que se dane os BRICS, a Rússia, Cuba e a Coreia do Norte! ninguém é páreo para a duplinha israelo-americana. HIGH STAKES, BABY! seria simbólico: é um CHUPA! geral, incluindo o Bush, o Obama e todos os outros antecessores deles que se enfiaram no Oriente Médio e perderam. ele ia ganhar! PEACE! TRUMP, BABY!
além disso, tem muito dinheiro envolvido e os produtores de petróleo e a indústria de defesa iriam se refestelar com mais orçamento para a guerra nos EUA. se não é de interesse da população, pode ser interesse de diferentes partes das elites americanas. incluindo dos grupos mais próximos de Israel, que tem forte lobby dentro da Casa Branca.
por isso, as ameaças diretas ao aiatolá. mas o custo é alto.
pode ser uma política de ambiguidade estratégica, mas talvez ele só realmente não saiba o que fazer. uma entrada controlada e pontual é o caso mais provável, mas lembrem-se: a teoria do gasto perdido pode entrar em ação e bagunçar toda a estratégia.
além disso, a conta para os EUA em guerras contra regimes opositores desde 1945 não é positiva. temos vitórias na guerra do golfo (1990), Panamá (1989) e Granada (1983). temos derrotas em Cuba, Vietnã, Afeganistão, Irã, Líbano, Iêmen, Somália e mais recentemente contra a Rússia na Ucrânia (ainda que a guerra não tenha acabado, né). temos empates com cheiro de derrota na antiga Iugoslávia, Iraque e Líbia.
e os outros atores?
a leitura é que Rússia e China podem dar alguns apoios de inteligência e estratégia para os iranianos, mas não vão se envolver diretamente. no momento, eles devem atuar para pressionar os EUA também não entrem no conflito e deixar que Israel e Irã se virem.
quem lembra do Conselho de Segurança da ONU? hahahahahaha.
no mundo islâmico, curiosamente, o Irã recebeu apoio integral de praticamente todos os países que importam, mas estes não devem mover um dedo prático em sua defesa. o apoio mais importante foi o paquistanês, que ofereceu seu arsenal nuclear ao Irã contra Israel.
a Europa, fazendo o papel de cadelinha de Israel, tem sua posição clarificada nas palavras de Friedrich Merz: Israel faz "trabalho sujo" no Irã por nós.
e o Irã?
pois é. e o Irã? como será que o povo que resistiu a oito anos de bombardeios com armas químicas de Saddam Hussein vai resistir aos bombardeios israelenses? como será que o povo que derrubou o Xá vai se dobrar às ameaças de Donald Trump? o funeral de Nasrallah não foi o suficiente para entender com o martírio funciona para os xiitas?
o Irã está sofrendo duras baixas, não há dúvidas, e o governo pode sim cair, mas a estrutura política iraniana é complexa, rígida, duradoura e não se esvairia com uma decapitação. Israel vai tentando dar um xeque-mate em um jogo que não é xadrez.
além disso, os mísseis iranianos têm causado duras perdas para Israel também. os sionistas já perderam aviões, unidades de inteligência, pontos logísticos (como os portos de Haifa e Ashdod), causando problemas de abastecimento. não está fácil se defender.
além disso, Irã possui outras cartas na manga como o preço internacional do petróleo, que pode colocar o mundo em crise econômica — alô, 1973! —, além de ter as bases EUA no Iraque e Jordânia na mira.
o tamanho geográfico de Teerã é uma faca de dois gumes: ao mesmo tempo que é um território difícil de defender em sua integridade — e a força aérea israelense tem invadido com facilidade —, ele também é propício para armadilhas, motivo que fez o Talibã, uma milícia com uma fração do poder iraniano dar um baile nos EUA no Afeganistão.
a entrada americana no conflito mudaria a dinâmica, mas criaria uma guerra assimétrica de alto custo.
fiquem atentos, não caiam na propaganda.
então muita calma. muita, muita calma.
eu vou deixar o espaço/convite para perguntas e respostas nos comentários, caso surjam e que podem suscitar novos debates aqui nesta news a partir dos próximos dias.
amanhã (20), teremos a segunda parte da news para tratar dos outros temas deste mundo que está uma loucura, edição dezesseis.
um bom feriado a todos!
tchau!