#1 - musk contra os trumpistas, um funeral histórico e o segredinho dos BRICS
uma newsletter para falar das coisas deste mundão, que são uma loucura mesmo
Acho que a newsletter é o novo podcast. É o novo grande projeto de todo mundo em 2025. Como se alguém fosse ler alguma coisa. Mas, de coração, eu espero que você leia esse trampo que vou fazer. Sejam bem-vindos a ‘O Mundo Está Uma Loucura’.
OMEUL será uma série de relatos jornalísticos e opinativos sobre o fato de, digamos, o mundo estar uma loucura. Como alguns sabem, sou jornalista na Revista Fórum, onde cubro, além de muitas outras coisas, política internacional. Decidi abrir mais este canal aqui para falar de alguns outros temas que acabam passando batido na correria das hard news e para um campo mais opinativo também. Além, é claro, de sugerir que você pingue um pixuleco aqui pra mim.
A ideia aqui é compilar várias notícias para que você entenda o que rolou no mundo na última semana e o que vai rolar na semana que vem. Tipo um Xadrez Verbal, só que sem seis horas de duração e bem menos completo. Aproveita e se inscreve:
Nos EUA
No império, o governo Trump vai passando o rolo compressor em todo mundo que achava que era esperto. Elon Musk, secretário do Departamento de Eficiência Governamental, ganhou superpoderes e tá ceifando o orçamento de geral.
A classe política (inclusive trumpista) está bolada, porque, como em todo lugar, político precisa de dinheiro e pessoal para fazer coisas. Sem dinheiro, não tem recurso e entrega. Sem entrega, não tem voto. Sem voto, não tem político.
Outra treta importante é a Ucrânia. O Trump fechou o acordo e vai levar na mão grande as terras raras ucranianas. O trato foi fechado e já era. O Zelensky vendeu o circo. Resta saber quais foram os termos finais, isto é, quais as garantias que os EUA deram a Kiev para abocanhar a festa.
Opinião: lê errado a situação quem acha que o Trump é subserviente ao Putin, ou que o Putin será subserviente ao Trump, ou que qualquer negociação será fácil.
Na Europa
Se os EUA estão em crise, a Europa vive uma eterna quarta-feira de cinzas desde 2008. A vitória da CDU (o PSDB alemão) não foi tão ampla quanto se esperava, o partido Social Democrata (o PT alemão) teve o pior resultado de sua história e a AfD (os nazis) fizeram 20% dos votos. O Die Linke (o PSOL alemão) cresceu bem e bateu quase 10% dos votos.
A coalizão tucanopetista com chucrute vai governar a Alemanha para barrar a extrema direita, mas resta saber por quanto tempo. O país, afundado numa recessão por conta da palhaçada de apoiar o Zelensky (não vou tirar essa piada do texto, me perdoem), não parece ter muitas alternativas para a armadilha de baixo crescimento que se impõe.
Na Espanha, a esposa do Pedro Sánchez está no tribunal por um rolo de corrupção. Na Romênia, o Georgescu, figura pró-Putin e anti-imigração que levou as eleições numa saraivada maluca, foi pra jaula em uma tentativa do establishment romeno de dar um fim nesse biruta enquanto é tempo.
Oriente Médio
No Líbano, quase um terço da população do país foi ao funeral de Sayyed Hassan Nasrallah para prestar homenagem ao líder do Hezbollah morto por Israel no ano passado. Uma demonstração de força gigantesca da resistência ao sionismo no Líbano e um aviso para o presidente recém-empossado Joseph Aoun (aliado dos EUA e da Arábia Saudita) que o bagulho é doido. O Hezbollah está baleado depois do que Israel fez, claro, mas ainda tem uma força popular significativa.
Na Síria, o novo presidente do país, Ahmed al-Shara, vai se sentando com os aliados do Oriente Médio. Conseguiu derrubar a resistência curda na base da bala e vai batendo com os drusos para tentar um novo arranjo para a Síria, com a dura missão de equilibrar os pratos internos (em especial das minorias alauitas, xiitas e cristãs) e externos (mantendo diálogos com EUA, Rússia, Arábia Saudita, Irã e Turquia). A única tropa que conseguiu fazer isso e dar estabilidade para a colcha de retalhos síria foi a família Assad. Al-Shara tem uma situação ainda mais difícil nas mãos, mesmo com a validação popular de seu golpe.
No Irã, negociações com a Europa vão se desenhando para tentar um desafogo nas sanções. Trump, do outro lado, vai forçando as barreiras. Israel segue na cola, e parece que tem ameaça de bomba para instalações nucleares. Um corredor logístico entre Irã e Rússia teve seus detalhes confirmados, contrariando a hipótese de que as relações entre Teerã e Moscou podem esfriar depois do papinho de Washington sobre a Ucrânia.
Israel segue a ofensiva contra a Cisjordânia, provando que realmente não vai parar nenhum conflito até 2026 (data limite do governo Benjamin Netanyahu). A invasão de Jenin é brutal. O cessar-fogo com o Hamas deve terminar na segunda-feira (3), e os sionistas não querem negociar uma segunda fase [e Israel está de trairagem].
O cessar-fogo com o Hezbollah acabou na semana passada, então, quando pararem as agressões em quaisquer partes da Palestina, o Líbano volta para a mira. O apoio massivo ao plano de Trump deu um gás para o expansionismo sionista. Olho na Cisjordânia e na inevitável, mas ainda inexistente e anunciada há anos, terceira intifada. O Egito rejeitou a proposta de tomar controle da Faixa de Gaza (lembrando que isso rolou entre 1956 e 1967 e, spoiler, não deu certo).
No golfo, Arábia Saudita segue no diálogo com o Irã e com o Azerbaijão.
Opinião: ninguém entendeu direito o que está acontecendo na administração Trump e está todo mundo esperando Al-Shara mostrar os dentes.
Eurásia
A Rússia segue no seu modus operandi, na chamada guerra de contato com a Ucrânia e pegando o território do Zelensky de pouquinho. Belarus, aliada de Putin, está mexendo o seu exército, mas nada de crucial até agora. A União Europeia sancionou uma nova rodada de cidadãos russos: um comediante, um enxadrista e um ginasta olímpico (agora vai!).
Tajiquistão e Quirguistão selaram um acordo histórico de paz sobre suas fronteiras e é esperado que a relação entre os irmãos ex-soviéticos seja de amiguinhos. Em 2022, eles trocaram bala por conta do conflito territorial.
Opinião: eu adoro a Ásia Central.
Sul da Ásia
Para fazer a ponte, os representantes do governo do Paquistão foram ao Azerbaijão e ao Uzbequistão para fortalecer laços econômicos. Mas histórico mesmo foi o reestabelecimento de relações comerciais entre Paquistão e Bangladesh.
[breve nota histórica: Paquistão e Bangladesh eram o mesmo país até 1973, quando os bengalis lutaram em guerra de independência em que aconteceram terríveis crimes contra a humanidade.
O Bangladesh recebeu um help da Índia e o Paquistão, dos EUA. Bangladesh se tornou independente e o partido da revolução, a Liga Awami [um partido laico de centro-esquerda, apoiado pela Índia], sempre teve um papel forte na política do país. Mas aí ano passado rolou aquela revolução colorida que colocou um novo governo no país. Na tentativa de se equilibrar entre Índia e Paquistão, as duas grandes potências da região, a nova gestão — comandada pelo “banqueiro do bem” [cai quem quer] Mohamad Yunus — reestabeleceu diálogo com Islamabad.] Parêntese concluído, juro.
América Latina
Depois da crise do Milei das criptomoedas e da patacoada lá na gringa, a inflação argentina voltou a subir, o que não parece ser uma boa notícia para El Loco. Em contrapartida, a queda do PIB foi menor do que a esperada. E aparentemente agora pessoas com deficiência são “imbecis” oficialmente na Argentina. Na Bolívia, a treta entre o atual presidente Luis Arce e o ex-presidente e ex-aliado Evo Morales segue em ritmo forte. Tem eleições por lá esse ano.
No Equador, as pesquisas indicam vitória de Luísa González, de esquerda. Mas com um pé atrás, sempre. Muita água para correr até abril. No Chile, rolou apagão e 8 milhões de pessoas ficaram sem luz nesta quarta-feira (26). Na Venezuela, o governo Trump ordenou a Chevron a interromper as exportações e vai recolocar o país na condição de estrangulamento novamente.
Nota: não vou noticiar coisas do Brasil aqui.
África
No Congo, a tragédia continua em mais um desdobramento da Guerra Mundial Africana. Os rebeldes do M23 apoiados por Ruanda seguem dando um baile na República Democrática do Congo e nas forças de paz da África do Sul. Tudo para roubar minérios. Muito bem equipados com armamentos ocidentais e israelenses, a guerra continua causando um caos no continente. (O Reino Unido, fiador do governo de Ruanda, anunciou sanções porque a parada tá realmente feia)
Uganda (Museveni) e Ruanda (Kagame) se beneficiam da tragédia no Congo, fragilizado pelo governo fraquinho de Tshisekedi (ou ao menos é o que acha Joseph Kabila, ex-presidente e filho do lendário militante comunista Laurent-Désiré Kabila).
Em Moçambique, um tiroteio na casa de um assessor do autoproclamado Bolsonaro moçambicano Venâncio Mondlane causou mais uma onda de protestos. Ele tenta derrubar o governo de Daniel Chapo, da Frelimo, desde outubro passado, ainda sem sucesso.
No Sudão, as milícias Janjaweed SUPOSTAMENTE apoiadas por Emirados Árabes Unidos e França perderam território para o governo, apoiado SUPOSTAMENTE por Egito, Irã, Arábia Saudita e Rússia, em especial na capital Cartum. Um avião foi derrubado pelos Janjaweed e caiu numa área residencial, aumentando a assustadora tragédia humanitária que se desenrola por lá.
Sudeste Asiático e Ásia Oriental
Gente, às vezes fica chato ficar falando assim: a China é tudo de bom. Mas a China é tudo de bom. Mas, enfim, a Huawei tá bolando uns chips novos.
Na costa de Taiwan, rolaram uns exercícios militares e a galerinha da ilha de Formosa deu uma chiada. A resposta da China foi dura, clara e direta: “Vamos pegar vocês, uma hora ou outra”. Há uma clara ofensiva de Donald Trump no pacífico, e sempre recomendarei intensamente a leitura da coluna China em Foco, assinada pela camarada Iara Vidal, colega de trabalho de Fórum e amiga.
Nas Coreias, ainda segue o debate se o presidente que tentou dar o golpe vai voltar ao poder, vai pra jaula ou vai dar pizza. O Kim Jong-Un falou que é super importante valorizar experiências de combate moderno, o que assanhou a galera que ainda jura de pé junto que tem dez mil coreanos lutando na guerra da Ucrânia (nenhum deles apareceu até agora). Pode até ter algum coreano lá, mas DEZ MIL?
Japão e Filipinas estreitaram relações militares de olho na China. O Vietnã segue batendo papo com Malásia, Nova Zelândia, Reino Unido, China, Rússia, Egito e mais uma porrada de gente por conta do Fórum do Futuro da ASEAN, que está discutindo, entre outras coisas, uma reestruturação econômica do bloco para tentar escapar das garras das tarifas de Donald Trump.
BRICS
Nesta semana também rolou a primeira reunião dos sherpas dos BRICS, nome dado aos embaixadores especiais pro bloco. Resumo da ópera? Vamos continuar fazendo o que estamos fazendo, mas na miúda, para o laranjão não ficar no nosso pé, reporta o Jamil Chade. Segue o jogo.
Para encerrar,
Obrigadíssimo pela leitura, papo reto. Tamo junto e não esquece de assinar: